No embalo de Bastardos Inglórios preparei uma listinha dos mais importantes filmes de guerra da história. Não são necessariamente os melhores, embora quase todos entrariam numa lista de melhores, mas os mais importantes. Sejam por retratar com fidelidade um momento histórico ou por apresentar inovações técnicas, de roteiro, grandes interpretações ou conceitos novos e inusitados.
Divirtam-se !
1 - APOCALYPSE NOW
(Apocalypse Now, 1979)
Dir: Francis Ford Coppola
Com: Martin Sheen, Robert Duvall, Frederic Forrest, Sam Bottoms, Laurence Fishburne, Albert Hall, Dennis Hopper e Marlon Brando.
O horror... o horror. Apocalypse Now não é só o mais importante filme de guerra de todos os tempos, mas um dos maiores filmes de todos os tempos. A precisão cirúrgica com que Coppola entrega essa obra de arte (poucas vezes a palavras coube tão bem). Muito além das convenções morais ou consciências de lados do combate, nesse filme todo o conjunto social e psicológico da guerra é apresentado. Traumas, vitórias, derrotas, os simples prazeres e o temor obsessivo da morte. E Brando... poderoso, magnético e superlativo.
2 – SEM NOVIDADES NO FRONT
(All Quiet on the Western Front, 1930)
Dir: Lewis Milestone
Com: Louis Wolheim, Lew Ayres, John Wray
“This story is neither an accusation nor a confession, and least of all an adventure, for death is not an adventure to those who stand face to face with it. It will try simply to tell of a generation of men who, even though they may have escaped its shells, were destroyed by the war...” (Tradução livre: Essa história não é uma acusação tampouco uma confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte não é uma aventura para aqueles que a enfrentam cara a cara. O filme tentará simplificar uma história e contá-la para uma geração de homens que, mesmo escapando das balas, foram destruídos pela guerra...)
Com essa frase o libelo anti-belicista mais fabuloso do cinema se inicia. Lewis Milestone ousou contar em 1930 essa poderosa história de guerra entre jovens alemães que venceram a batalha da vida nas trincheiras da primeira guerra mundial. Um grito contra toda e qualquer forma de guerra, uma bandeira branca tremulando contra as misérias que os homens são afligidos.
3 – GLÓRIA FEITA DE SANGUE
(Paths of Glory, 1957)
Dir: Stanley Kubrick
Com: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready
O que define o homem ? Para Stanley Kubrick são as escolhas que fazemos para defendermos nossos ideais, mesmo frente a morte. A história do Coronel Dax (Kirk Douglas) que ousa defender a vida frente a imbecilidade da morte é dura e amarga. A técnica do mestre aqui atinge os primeiros picos de total brilhantismo. Como não esquecer da amedrontada alemã que canta para entreter uma tropa aliada. Stanley Kubrick é gênio.
4 – O GRANDE DITADOR
(The Great Dictator, 1940)
Dir: Charles Chaplin
Com: Charles Chaplin, Paulette Godard, Jack Oakie, Reginald Gardiner, Henry Daniell, Billy Gilbert, Grace Hayle, Carter DeHaven.
Quando imagina-se a figura mítica de Chaplin, algumas imagens sempre vem a tona. Encolhido no frio em Em Busca do Ouro, abraçando o jovem menino em O Garoto e ... a dança do globo terrestre. O Grande Ditador resume tudo o que foi Charles Chaplin, inteligente e sagaz, sempre a procura de idéias e conceitos novos e humano. Muito humano. O maior dos depoimentos satíricos sobre a guerra é tão doce e pungente, quanto é ácido nas críticas (claramente) diretas ao nazismo. Quem não viu, precisa ver.
5 – DOUTOR FANTÁSTICO
(Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964)
Com: Peter Sellers, George C. Scott, Sterling Hayden, Keenan Wynn, James Earl Jones
Se em Glória Feita de Sangue, Kubrick (apesar de não ter nenhum envolvimento com o roteiro) disse que o homem se define por suas escolhas perante ao mais eminente perigo, em Doutor Fantástico diz que o homem com poder não passa de um completo idiota. Essa é a maior sátira a Guerra Fria, ao momento político de total tensão que norte-americanos e russos viveram por quase quarenta anos. É também um tratado sobre a imbecilidade do homem. A sátira é brutal (e convincente: diz a lenda que Reagan ao chegar ao poder em 81 perguntou aos seus “milicos” onde ficava a tal sala de guerra citada no filme), Peter Sellers atinge o máximo que um ator consegue ao se dividir em 3 papéis completamente diferentes e atingir o ápice em todos eles. George C. Scott é tão exagerado que sua atuação beira o “overacted”. Curiosidade: Kubrick era tão obcecado pela perfeição absoluta que leu cerca de 50 livros sobre guerra nuclear.
6 – CRUZ DE FERRO
(Cross of Iron, 1977)
Dir: Sam Peckinpah
Com: James Coburn, Maximillian Schell, James Mason, David Warner, Klaus Löwitsch, Vadim Glowna, Roger Fritz, Dieter Schidor.
Sam Peckinpah era um diretor conhecido por sua abordagem crua da violência na tela. Peckinpah era um (senão for o primeiro) esteta da violência. Suas obras eram cruas, amargas e extremamente poderosas. Cruz de Ferro é um desses exemplos. Corajoso ao abordar os soldados nazistas como seres humanos e não monstros sedentos por sangue como o imaginário popular os pintou. Obviamente a desvirtuação dos “valores americanos” não foi bem sucedida em termos de bilheteria, mas marcou o mundo por ser corajosa e atemporal. Como disse Bertorl Brecht : “Não se alegre com a derrota dele, jovem. Embora o mundo, erguendo-se tenha derrubado o canalha, a cadela que o gerou está no cio de novo".
7 – ROMA, CIDADE ABERTA
(Roma, Città Aperta, 1945)
Dir: Roberto Rossellini
Com: Aldo Fabrizi, Anna Magnani, Marcello Pagliero
Um marco. Como pode um filme tão “toscamente” produzido (usando até soldados nazistas presos como extras) ser tão maravilhoso. É o drama do homem comum perante ao terror da guerra. É o símbolo do neo-realismo italiano e o símbolo de um país ressentido com seu papel perante a guerra. É a história de um povo humilhado diante do mundo e que busca esperança mesmo quando ela não exista.
8 – A VIDA É BELA
(La Vita È Bella, 1997)
Dir: Roberto Benigni
Com: Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Giorgio Cantarini
A comédia é um dom de poucos. Fazer rir é uma tarefa muito complicada, ainda mais quando estamos em situações delicadas em nossas vidas. Fazer rir numa situação extrema é quase divino. Roberto Benigni foi divino ao viver Guido o judeu que cria a “loteria” dentro do campo de concentração apenas para não entristecê-lo frente a guerra. Sublime, tocante e engraçado. Benigni nos faz rir até do pior dos pesadelos.
9 – VÁ E VEJA
(Idi I Smotri, 1980)
Dir: Elem Klimov
Com: Aleksei Kravchenko, Olga Mironova, Liubomiras Laucavicius, Vladas Bagdonas
De todos os filmes apresentados esse talvez seja o mais perturbador. Realmente Elem Klimov não poupa o espectador de nenhum detalhe violento ou cruel. A jornada de Florya, um rapaz que depois de se perder de seus “seqüestradores” nazistas vaga pelas planícies da Bielo-Rússia encontrando as mais inacreditáveis imagens de morte, dor e surrealismo diante da guerra. É um filme que não tenta mostrar heróis, nem reacender a chama de nenhuma pátria. Trata apenas da guerra como ela é: uma fazedora de vítimas.
10 – A BALADA DO SOLDADO
(Ballada O Soldate, 1959)
Dir: Grigori Chukrai
Com: Volodya Ivashov, Zhanna Prokhorenko, Antonina Maksimova
A história do soldado que ganha a chance de rever sua mãe do interior da União Soviética é a visão de um país perante ao conflito. A jornada do soldado é belamente contada como uma balada (daí o título) de final obviamente triste. Um estudo profundo sobre como o homem pode ser alijado de seus sonhos com o cair de bombas.
11 – PLATOON
(Platoon, 1986)
Dir: Oliver Stone
Com: Tom Berenger, Willem Dafoe, Charlie Sheen, Forest Whitaker, Francesco Quinn, John C. McGinley, Richard Edson, Kevin Dillon, Johnny Depp
Oliver Stone é um sujeito politizado e com uma visão do mundo muito particular. Em Platoon, sua mira aponta para a falsa idéia de patriotismo que sempre acompanha qualquer guerra ianque. Stone realizou três filmes com ambientação no Vietnã. Entre o Céu e a Terra versa sobre o amor vencendo a guerra, Nascido em 4 de Julho enfoca no retorno de um herói de guerra destroçado por ela e Platoon fala sobre o evento em si. Muito do que está na tela é autobiográfico e baseado nas experiências que o diretor teve enquanto serviu. Baseado nesse recorte de tempo, a guerra não passa de uma briga de egos entre os “senhores da guerra” enquanto os soldados se matam por nada.
12 – A GRANDE ILUSÃO
(La Grande Illusion, 1937)
Dir: Jean Renoir
Com: Jean Gabin, Dita Parlo, Pierre Fresnay, Erich Von Stroheim
Nunca um título refletiu tanto o conteúdo de seu produto como A Grande Ilusão. E qual seria essa ilusão ? Várias respostas podem ser dadas. É ilusório pensar que as diferenças entre classes e pensamentos mudam o cerne do ser humano. É ilusório pensar que a guerra poupa os mais abastados e que eles serão “os eleitos” mediante ao terror. Jean Renoir entrega seu filme mais humano e mais bonito. Fala de amizade, que transcende lados e partidos.
13 – O RESGATE DO SOLDADO RYAN
(Saving Private Ryan, 1998)
Dir: Steven Spielberg
Com: Tom Hanks, Matt Damon, Tom Sizemore, Edward Burns, Barry Pepper, Adam Goldberg, Vin Diesel, Giovanni Ribisi, Jeremy Davies
A história aparentemente banal do resgate de um soldado comum, vai bem mais fundo do que aparenta. Trata da visão de um homem perante ao conflito, e de como uma atitude pode ajudar o homem a se transformar. Nunca antes a guerra foi filmada de forma tão visceral e realista. Spielberg nos entrega o inferno e aos poucos nos apresenta as escadas para o céu.
14 – A BATALHA DE ARGEL
(La Battaglia di Algeri/Maarakat Madinat al Jazaer, 1966)
Dir: Gillo Pontecorvo
Com: Brahim Hadjadj, Jean Martin, Yacef Saadi
Poderoso documento de um momento histórico importante, Batalha de Argel mostra a revolução argelina que deu a independência ao país. Pontecorvo usou muitos atores amadores e documentou (as palavras se encaixam perfeitamente) o evento. A força de uma idéia é ainda uma poderosa.
15 – A LISTA DE SCHINDLER
(Schindler’s List, 1993)
Dir: Steven Spielberg
Com: Liam Neeson, Ben Kingsley, Ralph Fiennes, Caroline Goodall, Jonathan Sagall, Embeth Davidtz, Malgoscha Gebel, Shmuel Levy, Mark Ivanir
A obra-prima de Spielberg, que exorcisou seus medos e que lhe deu credibilidade diante a Academia. Oskar Schindler não foi o santo que Spielberg pintou em preto e branco, mas não era essa a idéia dele. Sua idéia era a de mostrar (de forma muito bem sucedida) o Holocausto. Mostrar como o ser humano pode ser tocado pelo horror ao seu redor e agir em benefício do bem comum. Uma mensagem muito importante e que foi absorvida.
16 – RAN
(Ran, 1985)
Dir: Akira Kurosawa
Com: Mieko Harada, Tatsuya Nakadai, Akira Terao, Jinpachi Nezu, Daisuke Hyu, Hisashi Ikawa.
O épico medieval (e de guerra sim!) do mestre da poesia Akira Kurosawa é sua versão para Rei Lear de Shakespeare. Esse filme talvez seja o que melhor demonstre todas as técnicas que o mestre acumulou por toda sua vida. Foram 10 anos de preparação para que a obra-prima de Kurosawa visse a luz do dia. E valeu a pena esperar. Lindo e ao mesmo tempo violento e beirando o sublime.
17 – O FRANCO ATIRADOR
(The Deer Hunter, 1978)
Dir: Michael Cimino
Com: Robert De Niro, John Cazale, John Savage, Christopher Walken, Meryl Streep, George Dzundza, Chuck Aspegren, Shirley Stoler, Rutanya Alda
O primeiro filme americano sobre o conflito no Vietnã permanece como um dos maiores exemplares do que a guerra pode causar ao homem. A dor física apesar de presente não é enfocada, deixando-a em segundo plano diante dos problemas emocionais que ela causa. Caustico, soberbo e eterno.
18 – NASCIDO PARA MATAR
(Full Metal Jacket, 1987)
Dir: Stanley Kubrick
Com: Matthew Modine, Adam Baldwin, Vincent D’Onofrio, R. Lee Ermey, Dorian Harewood, Kevin Major Howard, Arliss Howard, Ed O’Ross, John Terry, Kieron Jecchins
O que é mais brutal ? A Guerra ou a formação de um guerreiro. Em seu terceiro filme abordando a guerra, Kubrick quer responder a essa pergunta. O que é mais doloroso ? O treinamento psicótico e doentio ou a possibilidade da morte a cada segundo ? A desumanidade do treinamento é posta em ação na batalha e os resultados são óbvios.
19 – A PONTE DO RIO KWAI
(The Bridge on the River Kwai, 1957)
Dir: David Lean
Com: William Holden, Alec Guiness, Jack Hawkins, Sessue Hayakawa, James Donald, Geoffrey Horne, André Morell, Peter Williams, John Boxer.
A liderança não implica apenas em ser correto em suas atitudes mas se sacrificar pelo homens. Ponte do Rio Kwai , incluindo sua brilhante parte técnica, é um épico sobre honra mesmo nos lugares onde ela não existe. Alec Guiness interpreta com tamanha paixão que por mais que “torçamos” para que os aliados logo cheguem e salvem os prisioneiros, ficamos torcendo por aquele homem em seu hercúleo trabalho de construir uma ponte.
20 – OS DOZE CONDENADOS
(The Dirty Dozen, 1967)
Dir: Robert Aldrich
Com: Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, Richard Jaeckel, George Kennedy, Robert Ryan, Telly Savallas, Donald Sutherland
O mais “cool” dos filmes de Guerra. A maior reunião de bad-asses da história do cinema é uma tremendo espetáculo de cor, dor, sangue e diversão. Os doze homens condenados são amorais, violentos, grosseiros e estúpidos. Mas isso nada importa, nós torcemos por eles como se fossem doze Supermans.
É isso ai pessoal, faltou algum ? Que filme deveria estar na lista ?
Nos escrevam ( farranocinema@gmail.com ) ou comentem ai embaixo.
Abraço !
Alexandre Landucci